Elas estão espalhadas na atmosfera e ninguém as vê, isso não quer dizer, no entanto, que as ondas eletromagnéticas sejam inofensivas. Emitida por equipamentos elétricos e eletrônicos, esse tipo de energia ocupa o espaço, atravessa qualquer tipo de matéria viva ou inorgânica e produz uma poluição imperceptível, capaz de influenciar o comportamento celular do organismo humano.
O uso da energia elétrica e eletromagnética tornou-se tão arraigado no cotidiano das grandes cidades, que já não é possível se privar do contato com elas. Além dos telefones celulares, os aparelhos eletrodomésticos e as linhas de alta tensão estão por toda parte. “Vivemos em um micro-ondas gigante”, diz o cientista, pesquisador do Sistema Integrado da Terra, filósofo noosférico e engenheiro de sistemas de teleautomação Boris Petrovic, ao alertar sobre o impacto da presença dos campos e das radiações eletromagnéticas.
Petrovic explica que o corpo humano não foi preparado para lidar com as interferências das radiações e dos campos eletromagnéticos. O engenheiro esclarece que tanto os celulares quanto qualquer outro tipo de comunicação sem o – como Wi-fi e bluetooth – utilizam ondas de radiofrequência para transmitir dados ou voz. Essas ondas são de comprimento muito baixo e são chamadas de micro-ondas. Essa tecnologia é a mesma dos fornos de micro-ondas, usados para aquecer alimentos por atrito das moléculas de água.
O enfraquecimento do sistema imunológico, segundo o engenheiro, é a consequência mais grave da poluição eletromagnética. O efeito nocivo ocorre quando o campo elétrico dessas tecnologias interfere na bioeletricidade natural do corpo humano. Boris explica que os sintomas variam de dores de cabeça e irritabilidade a diversos tipos de câncer. “As consequências são mais evidentes em pessoas que apresentam eletrossensibilidade, mas, por ser de natureza cumulativa, esse tipo de poluição afeta a todos”, explica o pesquisador.
AS ANTENAS E AS MORTES POR CÂNCER
Um estudo referência no mundo foi realizado em Belo Horizonte, pela professora da faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais Adilza Dode. A tese de doutorado de Adilza evidencia mortes por câncer ao redor de antenas de telefonia celular na capital mineira. Analisando dados entre 1996 e 2006, a pesquisadora estudou 5 mil casos de morte por câncer e constatou que mais de 80% das vítimas moravam a uma distância de até 500 metros das antenas.
Segundo Adilza, os padrões permitidos no Brasil são os mesmos adotados pela Comissão Internacional de Proteção Contra Radiações Não Ionizantes (Icnirp), normatizados em legislação Federal de maio de 2009. “Até hoje, ninguém sabe quais são os limites de uso inócuos à saúde. Os padrões adotados pelo Brasil são inadequados. Eles foram redigidos com o olhar da tecnologia, da ciência e da redução de custos, e não com base em estudos epidemiológicos”, assegura.
"Há mais de dez anos, surgem apelos da comunidade científica para conscientização dos riscos da poluição eletromagnética"
OMS RECOMENDA A REDUÇÃO DE USO
Em 2010, a Food and Drug Administration (FDA), órgão de saúde dos Estados Unidos, divulgou um comunicado afirmando que, apesar do aumento drástico no uso de telefone celular, as ocorrências de câncer no cérebro não aumentaram entre 1987 e 2005.
Diante da insegurança acerca dos impactos, em 2011, a Organização Mundial da Saúde divulgou um documento no qual classifica a radiação eletromagnética como “potencialmente cancerígena” e recomenda a redução das emissões “tanto quanto possível”. ‑
Quatro anos antes, o grupo de trabalho criado pela OMS para discutir o assunto publicou um documento no qual lista recomendações sobre exposições de curto até longo prazo. Para longo prazo, as indicações são de que o governo e a indústria devem monitorar a ciência e promover programas de pesquisa para desenvolver mais evidências sobre o tema. Segundo a OMS, há lacunas no conhecimento do assunto. A publicação ainda recomenda que, quando construídas novas instalações e projetados novos equipamentos, formas de baixo custo para a redução de campos devem ser exploradas.
Em relação a exposições de curto prazo, recomendações internacionais de exposição foram desenvolvidas para proteger os trabalhadores e o público contra estes efeitos e devem ser adotadas pelos responsáveis pelo desenvolvimento de políticas. Programas de proteção contra a poluição eletromagnética devem incluir medicação de exposição a fontes que excedam os valores-limite recomendados.
CIENTISTAS QUESTIONAM PARÂMETROS
Há mais de dez anos, surgem apelos da comunidade científica para conscientização dos riscos da poluição eletromagnética. O Painel Científico de Seletun (2011), organizado em Oslo, na Noruega, contou com a participação de cientistas de cinco países e teve como resultado uma série de recomendações para os governos. Entre outras conclusões, o Painel desconfia dos parâmetros de exposição tidos como seguros pela Comissão Internacional de Proteção Contra Radiações Não Ionizantes (Icnirp) e usados pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
O Painel estabelece em 0,1 μT (MicroTesla – unidade usada para medir campos magnéticos) como limite de exposição no período de 24 horas. Dessa forma, o recomendado passa a ser 1 mil a 10 mil vezes menor do que o atual. De acordo com os cientistas, os números da Icnirp foram definidos pelo olhar da tecnologia e redução de custos, sem ter como base estudos do impacto na saúde humana e no ambiente.
Após tomar conhecimento dos malefícios da exposição contínua a campos eletromagnéticos, um grupo de moradores do Alto de Pinheiros, localizado na zona oeste da cidade de São Paulo, moveu uma ação judicial contra a empresa AES Eletropaulo.
No processo, os moradores questionavam o aumento da radiação eletromagnética causado por novas torres instaladas pela Eletropaulo. À época, foi levantada a tese de que a exposição interage com o DNA humano, podendo provocar, entre outros males, a leucemia.
Em tramitação na justiça desde 2001, o caso já passou por duas instâncias, nas quais o ganho de causa foi dado aos moradores. Atualmente, o processo está no Supremo Tribunal Federal (STF), aguardando a decisão final do ministro Dias Toffoli. Nas outras instâncias, as deliberações foram embasadas no princípio da precaução, que se caracteriza pela incerteza científica sobre o dano ambiental.
"O magnetismo está por toda parte: no avião, num teatro lotado, enquanto você dorme com a televisão ligada na tomada ou quando é acionado o despertador do celular."